História do esporte paralímpico brasileiro
O primeiro esporte adaptado praticado no Brasil foi o basquete em cadeira de rodas. Enquanto realizavam tratamento médico nos Estados Unidos, brasileiros com deficiência conheceram a modalidade e a trouxeram para o país. Em 1958, foi fundado o Clube do Otimismo, no Rio de Janeiro, por iniciativa de Robson Sampaio de Almeida e pela ação do técnico Aldo Miccolis – dois pioneiros do Movimento no Brasil.
Dois anos mais tarde, houve a primeira edição dos Jogos Paralímpicos, em Roma, na Itália. O Brasil, no entanto, só estrearia no evento na edição realizada na cidade de Heidelberg, na Alemanha Ocidental, em 1972. A primeira medalha paralímpica do país foi conquistada nos Jogos de Toronto, em 1976. Justamente Robson Sampaio de Almeida, acompanhado de Luiz Carlos, o “Curtinho”, faturaram a prata na modalidade lawn Bowls, antecedente da bocha que era praticada na grama.
Com exceção das duas primeiras edições do evento, a competição paralímpica ainda não era realizada na mesma cidade sede dos Jogos Olímpicos. A partir da edição de Seul, em 1988, a organização dos eventos assumiu o formato atual, ocorrendo na mesma cidade e em sequência.
Nasce o Comitê Paralímpico Brasileiro
O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) foi fundado no dia 9 de fevereiro de 1995, em sua primeira sede, em Niterói, no Rio de Janeiro. Seu primeiro presidente foi João Batista Carvalho e Silva, que manteve-se à frente da entidade até 2001. Durante sua gestão, investiu esforços na ampliação visibilidade ao esporte paralímpico. Trabalhou em conjunto ao então Ministro Extraordinário do Esporte, Pelé, que acompanhou a delegação brasileira nos Jogos Paralímpicos de Atlanta 1996.
A primeira participação do Brasil sob gestão de seu comitê nacional foi bem-sucedida, e o país terminou na 37ª colocação, com 21 medalhas, sendo dois ouros, seis pratas e 13 bronzes. Quatro anos mais tarde, nos Jogos de Sydney 2000, os brasileiros fecharam sua participação em 24º e conquistaram 22 medalhas: seis ouros, dez pratas e seis bronzes.
No ano seguinte, foi sancionada a Lei Agnelo/Piva, fundamental no desenvolvimento do esporte adaptado no Brasil. A legislação estabelece o repasse de parte da arrecadação das loterias federais para os comitês olímpico e paralímpico. Esta verba proporcionou ao paradesporto nacional avanços estruturais e técnicos.
Em 2001, João Batista deu lugar a Vital Severino, que exerceu a função de secretário executivo da entidade. Durante sua gestão, foi realizada uma reestruturação. Anteriormente, os esportes eram divididos por tipo de deficiência e os atletas da mesma modalidade só se uniam como uma Seleção em Jogos Paralímpicos. Com a nova organização a divisão passou a ser por modalidade, por exemplo, atletismo tornou responsabilidade de uma mesma confederação, mas é praticado por atletas com diferentes deficiências. Em 2002, também foi realizada a transferência da sede do CPB, que deixou Niterói e foi a Brasília.
Na edição seguinte dos Jogos, Atenas 2004, o Brasil subiu no ranking para o 14º lugar, com 33 medalhas, sendo 14 ouros, 12 pratas e sete bronzes. Os Jogos da Grécia foram marcantes, já que esta foi a primeira vez em que a competição teve transmissão pela televisão para o público brasileiro, por meio de uma estratégia de comunicação do CPB, que comprou os direitos dos Jogos e repassou ao Grupo Globo. O grande destaque foi Clodoaldo Silva, nadador que conquistou sete medalhas – seis ouros e uma prata -, e tornou-se uma referência nacional do esporte adaptado.
Nos Jogos de Pequim, em 2008, a delegação brasileira mais uma vez avançou no quadro de medalhas, agora com a nona colocação. Foram 47 conquistas, sendo 16 ouros, 14 pratas e 17 bronzes – marca absoluta de pódios que só seria superada nos Jogos do Rio, em 2016.
No ano seguinte à edição chinesa dos Jogos Paralímpicos, houve nova eleição no CPB, e Andrew Parsons foi escolhido como o novo dirigente da entidade. Andrew trouxe ao CPB a bagagem de quem já havia sido secretário-geral do CPB de 2001 a 2009 e, também, presidente do Comitê Paralímpico das Américas, de 2005 a 2009. Andrew foi reeleito em 2013 e geriu o esporte adaptado brasileiro até 2017.
O avanço nos Jogos Paralímpicos também foi contínuo. A melhor participação do país em medalhas de ouro aconteceria em Londres 2012. Liderados pelo nadador Daniel Dias, o Brasil ficou com a sétima colocação no quadro-geral, com 21 ouros, 14 pratas e oito bronzes.
A campanha foi chave no maior objetivo brasileiro neste período: em 2009, além do início da gestão Andrew Parsons, houve a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Paralímpicos de 2016. O planejamento do CPB, então, voltou-se todo a representar o Brasil da melhor forma possível na Paralimpíada que seria realizada em casa.
A oportunidade de sediar os Jogos Paralimpíada ocasionou ainda a construção daquele que se tornaria o maior legado físico da competição. A construção do primeiro Centro de Treinamento Paralímpico do Brasil foi oficializada em janeiro de 2013, em São Paulo. A obra foi orçada em cerca de R$ 260 milhões, fez parte do Plano Brasil Medalhas, do Governo Federal, que investiu R$ 1 bilhão adicional ao orçamento do esporte brasileiro entre 2013 e 2016.
O CT Paralímpico foi inaugurado em maio de 2016 e serviu como sede da aclimatação brasileira para a Paralimpíada do Rio 2016. O CT conta com instalações esportivas indoor e outdoor para treinamentos, competições e intercâmbios de atletas e seleções em 15 modalidades paralímpicas: atletismo, basquete, esgrima, rúgbi e tênis em cadeira de rodas, bocha, natação, futebol de 5 (para cegos), futebol de 7 (para paralisados cerebrais), goalball, halterofilismo, judô, tênis de mesa, triatlo e vôlei sentado. Além disso, tem área residencial com alojamentos, refeitório, lavanderia e um setor administrativo com salas, auditórios e outros espaços de apoio.
No Rio 2016, os brasileiros foram os anfitriões. A delegação verde e amarela contou com o maior número de atletas já enviados para Jogos, 278. Também atingiu o maior número de pódios da história da nação, ao conquistar 72 medalhas, sendo 14 ouros, 29 pratas e 29 bronzes. O Brasil fechou sua participação na 8ª colocação.
A representatividade do Brasil no esporte também foi ampliada, e houve a participação em duas edições de Jogos de Inverno: dois atletas estiveram em Sochi 2014. Em 2018, em PyeonChang, o time verde e amarelo teve três representantes.
Em março de 2017, o então vice-presidente do CPB Mizael Conrado foi eleito por aclamação o novo presidente da entidade. Uma de suas primeiras conquistas foi a ampliação da concessão de uso do CT Paralímpico, que agora é de cinco anos, renováveis por mais cinco temporadas, em processo de licitação pública junto ao Governo do Estado de São Paulo.
Ex-jogador de futebol de 5, Mizael Conrado deu prioridade à expansão do cunho social do esporte paralímpico atrelado ao alto rendimento. Foram desenvolvidos projetos como Centro de Formação – Esportes Paralímpicos, que oportunizou o primeiro contato de crianças com o esporte adaptado. Outras iniciativas, como o Camping Escolar Paralímpico, foram colocadas em prática. O Festival Dia do Atleta Paralímpico, em 22 de setembro de 2018, reuniu mais de 7 crianças em 48 núcleos, por todos os estados do país, em ação inédita de expansão do Movimento pelo Brasil.