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Comunicação inclusiva: boas práticas e desafios da acessibilidade

Maria Paula Vieira. Jornalista, fotógrafa, modelo, criadora de conteúdo e ativista do movimento das pessoas com deficiência. Foto: Wilson Vitorino.

Cerca de 46 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência. Se o número já parece expressivo, quando pensamos que ele corresponde a 24% da população nacional, percebemos a real importância de iniciativas e campanhas por uma comunicação inclusiva.

Cada um se relaciona com o mundo à sua volta de maneira diferente. Levar em conta essa diversidade é fazer com que mais pessoas participem dos diálogos que acontecem no dia a dia.

Mas, como promover a inclusão por meio do acesso à informação? O que é comunicação inclusiva e como ela influencia na vida de quase um quarto dos brasileiros?

Inclusão pela comunicação

No ambiente digital, as redes sociais reúnem milhões em busca de interação e os portais de informação apresentam conteúdos diários para nichos cada vez mais específicos. Em paralelo, serviços de streaming lançam semanalmente aquele episódio que estará nos próximos trending topics.

Boa parte desse conteúdo é apresentada na forma de textos, fotos, áudios (podcasts) ou vídeos. No entanto, por mais que seja amplamente divulgado, quando não utilizadas medidas de acessibilidade, nem todos conseguem consumi-lo.

Trabalhar uma comunicação inclusiva envolve considerar formatos e recursos para que todos possam ter acesso à informação, considerando uma diversidade de pessoas com e sem deficiência.

O tema tem ganhado grande visibilidade entre empresas e veículos de comunicação especialmente após o Festival Cannes Lions de 2019. Na ocasião, o setor de criatividade e publicidade reconheceu iniciativas inovadoras de marcas que valorizassem a inclusão de consumidores.

Mesmo assim, na prática, a comunicação inclusiva ainda não encontrou um caminho dentro de muitos canais. Por mais que exista um movimento crescente em prol da diversidade e da acessibilidade em diferentes níveis, permanecem as barreiras.

O jornalista e ativista pelo direito das pessoas com deficiência Gustavo Torniero aponta que a acessibilidade ainda é vista como um adicional e não como algo a ser considerado na etapa de planejamento da comunicação.
Gustavo sorri com o rosto levemente erguido. Ele veste t-shirt azul.
Gustavo Torniero. Foto: Divulgação/Redes Sociais

“Não há uma percepção geral por parte de muitas organizações de inserir um olhar inclusivo, de diversidade e de acessibilidade desde o início”, analisa Gustavo, que tem deficiência visual.

Ele ainda afirma que existe um desconhecimento técnico sobre como produzir conteúdo acessível, especialmente, acerca da inclusão de audiodescrição, legendagem e da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

Porém, se grandes veículos ainda não adotaram um viés de diversidade em sua comunicação, a resposta pode estar em outro lugar.

Influenciadores na linha de frente pela diversidade

Com mais de 11 mil seguidores em seu perfil no Instagram, a também jornalista e ativista Maria Paula Vieira se locomove com cadeira de rodas desde a adolescência. Na rede social, imagens de seu trabalho como modelo e fotógrafa se alternam com cards de conteúdo que abordam temas como comportamento e sexo. Um eixo temático, porém, está sempre presente: a representatividade e inclusão da diversidade de corpos.

Em um vídeo com sugestões de poses para fotografia em cadeira de rodas, foram mais de 7 mil visualizações. Já outro, sobre o chamado cripface – quando um ator ou atriz sem deficiência interpreta uma personagem com deficiência – atingiu mais de 18,3 mil plays até a publicação deste artigo.

“O trabalho do influenciador é muito importante, especialmente, durante este ano, quando ganhamos mais visibilidade. Os influenciadores mostraram a necessidade de pensarmos em inclusão. Estão quebrando a barreira das empresas e veículos para que as pessoas olhem para a importância da comunicação inclusiva”, explica Maria.

Na avaliação de Gustavo Torniero, que também divulga suas ações em redes, existe um movimento crescente de ocupação do espaço de pessoas com deficiência em diferentes meios.

De acordo com o jornalista, “muitos ativistas e produtores de conteúdo com deficiência promovem campanhas sobre acessibilidade e de defesa de direitos, reivindicando que as marcas produzam material de qualidade e acessível”.

A fim de ajudar todos aqueles que buscam elaborar conteúdos visando inclusão e acessibilidade, preparamos a lista abaixo com algumas dicas.

Cinco medidas para uma comunicação inclusiva

1. Integre pessoas com deficiência nos debates sobre comunicação

Uma comunicação mais acessível parte, primeiramente, do entendimento acerca das demandas das diferentes pessoas. Para isso, nada melhor do que apostar na diversidade.

Diferentes deficiências exigem diferentes medidas para acessibilidade. Na verdade, ainda devem ser considerados os diversos graus de deficiência, cada um com suas particularidades. Isso, claro, sem deixar de lado as preferências individuais.

Esteja sempre aberto a incluir pessoas com deficiências diversas no planejamento de comunicação para melhor entender cada demanda.

Consuma conteúdos de influenciadores com deficiência e ativistas nas redes sociais. Reflita sobre o que eles pensam e esteja atento ao que tem sido discutido no meio da comunicação inclusiva. Muitos nomes de destaque, inclusive, trabalham como consultores de acessibilidade em comunicação, então aproveite a oportunidade!

2. Comunicação inclusiva é anticapacitista

Capacitismo é a discriminação, opressão ou abuso da pessoa com deficiência. O termo envolve uma série de situações desde o uso de palavras pejorativas à falta de acessibilidade nos lugares. Além disso, expressões que alguns, por desinformação, consideram como elogios também são consideradas capacitistas. Exemplos comuns são percebidos em frases como “Você é tão linda, nem parece deficiente!” ou mesmo “Você é um exemplo de superação”.

Não é raro, ainda, vermos matérias jornalísticas nas quais as pessoas com deficiência são retratadas como heroínas ou guerreiras quando realizam tarefas do dia a dia ou seus trabalhos. Ou ainda quando são citadas somente em datas comemorativas ou trágicas.

Maria Paula Vieira enfatiza que este é um posicionamento dos veículos de comunicação que deve ser questionado. Juntamente com palavras ofensivas como “retardado” ou “aleijado”, o tom de superação deve ser evitado se buscamos uma comunicação inclusiva.

“É necessário que se fale sobre as pessoas com deficiência para além da sua deficiência. Precisamos falar sobre seus trabalhos, seus talentos e sua representatividade”, reforça Maria.

3. Use e abuse da descrição de imagens

O Instagram, uma das redes sociais mais populares do mundo, tem como sua principal ferramenta de interação a imagem. Aliás, há algum tempo, especialistas dizem que a imagem é a linguagem da internet, sejam fotos ou vídeos.

Algo tão difundido, todavia, pode se tornar uma grande barreira para a inclusão de pessoas cegas.

Se quisermos impactar as mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual espalhadas pelo Brasil, as imagens precisam de descrição. E estamos falando tanto de redes sociais quanto de sites.

Na realidade, a descrição de imagens é um recurso importante para os sites. Tão importante que contribui até para posição no Google. E, como qualquer ferramenta, o ideal é obedecer a algumas regras:

– As palavras devem estar escritas corretamente;

– Não inicie as descrições com “imagem de…”;

– Seja sucinto na descrição, exceto no caso de obras de arte;

– Dispense a descrição de imagens apenas decorativas;

– O alt text (texto alternativo) não deve ser o mesmo da legenda.

4. Não se esqueça das legendas e da LIBRAS!

Assim como as pessoas com deficiência visual, aquelas com deficiência auditiva também encontram suas próprias barreiras de acessibilidade.

Como mencionamos, a comunicação inclusiva deve levar em conta as especificidades de cada indivíduo. No caso do consumo de vídeos por pessoas com deficiência auditiva, o ideal é usar legendas descritivas ou interpretação em LIBRAS. Sempre que possível, utilize os dois recursos!

Somente desta forma podemos nos certificar de que aquela série, filme ou vlog poderá ser apreciado, inclusive pelos alfabetizados em LIBRAS.

Lembrando que, a audiodescrição em vídeo também é necessária para aqueles(as) que têm deficiência visual.

5. Utilize hashtags

As hashtags são uma forma de organizar e catalogar conteúdo pelas redes sociais, mas acabaram tomando outro papel também. Com a criação da #PraCegoVer e #PraTodosVerem, as hashtags adquiriram uma função de inclusão.

Hoje, redes como o Facebook, o Instagram e o LinkedIn usam as duas para a descrição de imagens e textos. Além de serem um incentivo para a adoção de uma comunicação inclusiva, todos aqueles que precisam podem encontrar, nas hashtags, conteúdos organizados e que serão descritos.

Comunicação inclusiva: uma mensagem para todos

Política, moda, esportes, tecnologia, comportamento e outros. Seja qual for o tema, todos temos direito ao acesso à informação de forma igualitária.

Promover uma comunicação inclusiva é promover e conscientizar sobre diversidade. É garantir lugares de fala e oportunidades para diálogo.

As dicas que elencamos neste artigo apenas “arranham” a superfície de todo um universo de interações. Os desafios são muitos e ainda existe um longo caminho a ser percorrido em busca de maior acessibilidade. Enquanto isso, ativistas e influenciadores usam as novas tecnologias e redes sociais com um objetivo em comum: garantir que cada mensagem seja entregue a todos.

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